Renata Rimet

Inspiração guardada não respira, verso é vício e vice versa...

Textos


Despedida sem luto

Enquanto organizava o quarto analisava que apenas havia ganhado mais espaço, foi enquanto uma música tocava que dei-me conta que não haveria mais espera, nem doce, nem amarga, nenhuma espera.

Enquanto dobrava algumas blusas e pendurava vestidos no guarda roupa admirava a capacidade de interpretar o verdadeiro início do fim, e mais uma vez, uma canção respondeu, "as jóias  que me dava não tinham nenhum valor",  e de fato, não tinham, era mais uma obrigação em forma de objeto, que nada preenchia, existem pessoas que sentem-se preenchidas com a presença, outras são preenchidas com a sensação que o passado tenha sido perfeito e defendem, mesmo sem notar, a permanência nele, ou um cotidiano retorno, tão necessário quanto insensato, a ponto de impedir  talvez o  encontro das peças perdidas do quebra cabeças que a vida nos apresenta e oferece todo o tempo para completar, sem nenhuma pressa,  sem que os desencaixes ou pecinhas mal colocadas influenciem tão definitivo na caminhada, mas,  quando acredita -se que a missão é compor todas as peças para depois viver, pode ser que a paz de espírito não seja encontrada, afinal, procurou-se apenas peças, não viveu a emoção de sorrir enquanto errava e aprendia algo novo.

É necessário construir laços, sorrir juntos e não do outro, tudo isso é melhor que reunir volumes de coisas, é sempre melhor termos histórias compartilhadas, lembranças saudáveis e angústias superadas.

A dias tenho conversado com amigos e compartilhado  sentimentos que viviam reprezados, a graça toda  é que são meus amigos de verdade, daqueles que riem junto, dividem segredos, intimidades e respeito, e não importa quantas décadas tenham passado desde a última conversa olho no olho, ali foi conservado algo importante,  que em nosso caso,  perdemos no meio de tudo, e essa sensação é muito mais positiva que a constante espera, bem provável, do outro lado, alguém não desejava chegar, forçando para acontecer cada vez mais tardia, e assim fomos nos perdendo, tornando-nos indiferentes e algumas vezes nos questionando a razão de tudo isso, e foi assim o início do fim, deixei que você fosse sempre, sem cobrar, de tanto entender suas necessidades, fui desistindo de fazer parte, afinal, eram tão suas, por muito tempo apenas esperava a volta, era  notorio que nenhum laço mais nos unia, assim deixei-o livre, sem pressão, e com a certeza de que não precisa voltar, meu tempo de espera esgotou, agora preciso viver de verdade, nesse ponto final ouvia Jorge Aragão, um clássico.
Renata Rimet
Enviado por Renata Rimet em 17/05/2020
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